Descrição da Arrábida, Padre Inácio Monteiro

 

Descrição da Arrábida data dos finais do século XVII ou início do século XVIII. Trata-se de um poema da autoria de um sacerdote madeirense, que, para o redigir, se inspirou numa viagem à Portugal continental. Este texto poético descreve o Convento da Arrábida e a paisagem envolvente, através de uma linguagem requintada.

 

O Velho Convento da Arrábida

Estava a entardecer “Desvanecido, o Sol…”, quando o padre, acompanhado de amigos, seguiu para a igreja. Esta pareceu-lhes inacessível, pois estava cercada de muros e nem se via a porta. Ao entrar, depararam-se com uma bela gruta, onde encontrava-se a imagem de Santa Maria Madalena.

“Sobre uma penha a neve congelada,

A qual com raios de ouro o Sol cobria,

Se fazia de todos admirada,

Pois a neve este Sol não derretia;

Se já não foi que a gruta em sua entrada

Novo tesouro ao mundo descobria,

Que bem se deixa ver que era tesouro

Ver em campos de prata barras de ouro.”

 

No convento havia painéis de azulejos que representavam vários santos. Ao padre chamou-lhe a atenção a figura de Santo António, que tinha o Menino-Jesus sentado num dos braços. Outra imagem, desta vez a de Cristo, encontrava-se no jardim. Já no convento, subiram uma escada e passaram pelo refeitório, ao lado do qual havia uma fonte com águas “nevadas”. O dormitório tinha dezasseis celas, cujas portas eram muito estreitas “que entrar nelas é grande purgatório”. Os frades dormiam “na pedra fria” e cobriam-se com uma só manta. A natureza à volta era só e triste.

“Só direi que no monte a natureza

Em verde quadro a soledade retrata

Porque pinta nas pedras a dureza,

E nas aves as penas com que mata.”

 

 

Monteiro, P.I. (2014). Descrição da Arrábida. Vilhena, A.M., Pires, D. & Franco, J.E. (Eds.). Setúbal: Centro de Estudos Bocageanos.